há algumas semanas, aconteceu algo inusitado aqui na minha rua. acordei com a sensação de estar sonhando com uma música clássica quando, na verdade, a música estava acontecendo na vida real, a todo volume, às cinco da manhã.
tipo, a minha rua não é o supra sumo do silêncio. vez por outra tem casal brigando, moradores de rua querendo sair no soco, até mesmo criminosos, às vezes, se juntam embaixo do meu prédio para discutir questões, mas música clássica foi a primeira vez.
meio que sem saber o que estava acontecendo, duas coisas me ocorreram 1) de onde tá vindo esse troço? 2) que música legal, quero encontrar no sporifai. na sonolência, tentei gravar um fragmento com o celular, mas não deu certo. daí meu impulso fofoqueiro fez com que eu abrisse a janela, mas não vi nada de extraordinário, não dava pra identificar de onde vinha o som.
daí uma coisa me ocorreu 1) essa pessoa se matou e colocou a música tão alta que é pra encontrarem o corpo rápido. daí a música passou a me angustiar afu (= muito, um monte).
daí uma coisa ocorreu a algum vizinho, gritar “BAIXA ESSA MERDA, CORNO” na janela. nem preciso dizer que foi sem sucesso. mas meu vizinho desconhecido foi lá e fez melhor: ele desceu pra ver de onde tava vindo o barulho. eis que era um cara dentro de um carro ouvindo uma peça de bach (depois teve uma descrição ao final da música) simplesmente porque sim. o vizinho, highly puto da cara, bateu no vidro várias vezes e teve que dizer “pode baixar o som, por favor? seis da manhã, cara, a gente precisa dormir”. não deu pra ouvir o que o apreciador de bach respondeu, mas naquela altura eu já tava com medo que 1) o cara no carro estivesse morto 2) o cara no carro quisesse matar o vizinho 3) o vizinho quisesse matar o cara.
o homi baixou a música e tals, meu vizinho subiu e ainda fiquei uns minutos meio apreensiva. daí o cara tacoule a música alta de novo e saiu com seu carro noite adentro.
é óbvio que eu não lembro exatamente da música, só sei que gostei e depois passei a ficar apenas angustiada com isso. enfim, era só pra registrar esse momento que, acho, não acontece todo dia.
respondendo cartinhas do instagram
esses dias abri uma caixinha de perguntas no instagram e alguns leitores dessa news deixaram questionamentos muito pertinentes. vamos a eles!
📧 essa é do matheus valduga, da mostardas e the cure, e ele aparentemente não tem medo de nada tocando num tópico tão sensível: qual a linha tênue entre um final de domingo tranquilo x depreshow?
a questão não é SE o domingo vai ficar depreshow, mas a partir de QUAL HORÁRIO. não adianta, domingo tem esse sentimento melancólico de felicidade que já acabou. pra mim, o final de domingo é tranquilo se eu tenho com o que me distrair. se eu tô sozinha em casa procurando filme na mubi, pode ter certeza que talvez eu chore um pouquinho ao colocar o alarme pro dia seguinte (sim, isso foi muito específico).
mas houve um tempo em que eu evitava fazer qualquer coisa no domingo. reservava o dia inteiro pra não me mexer e ficar remoendo a segunda-feira vindoura. a real é que eu me sentia muito pior “descansando na tristeza” do que realmente saindo com a galera para parques, cafés, ou indo a algum bar aqui perto de casa. o despertador ia ser ativado do mesmo jeito, o que eu fazia nesse intervalo de tempo é o que realmente ia preencher e alegrar o domingo.
📧 a próxima pergunta veio do yuri testikov, da clichês inéditos. yuri pergunta o seguinte: sue, comofas para manter peridiocidade e qualidade dos textos como vc faz? admiro🙃✨
primeiramente, fico “lijonjeada” pelo “qualidade dos textos”. segundamente, a periodicidade tem a ver com aquela coisinha que comento vez por outra, sou especialista em esquecer. se quero realmente lembrar de alguma coisa, preciso escrever. a newsletter é a única tarefa que tenho feito com dedicação e com total entrega e acho que mais importante do que escrever é toda a conversa que vem depois de um texto. isso é muito legal, cria uns vínculos massa.
se eu não escrevesse, se não marcasse esse compromisso comigo, talvez só trabalharia e ficaria em casa e isso esvaziaria quem eu sou completamente. acho que essa é a grande motivação: não se perder.
📧 a ilustradora mais deboche e incrível que esse país tem, lidiane dutra, me perguntou se estou acompanhando entrevista com vampiro. estou totalmente por fora desse assunto, amiga. perdoa!
📧 a raicilane, da cozinhando palavras, questiona: como é saber que o caos que te habita, habita muitos? me included. adoro como tu alinha as ideias.
estou impactada que sou feita de caos (risos). mas, brincadeiras à parte, acho que somos muito similares em termos de angústias, especialmente ancorados na lógica capitalista (ai lá vem ela com esse papinho again). mas a real é que, principalmente aqui na nossa bolha de substack, tá todo mundo meio que se angustiando por causas similares, daí reverbera fácil. as minhas ideias, por outro lado, nem sei como que alinho, pois o que me impulsiona a escrever geralmente surge no dia ou na semana que quero publicar o texto. aliás, a news já teve diversos formatos: buscando temas criativos/pesquisa, depois teve a fase da sofrência, daí teve a fase do vamos assistir e ler coisas juntos e agora tá numa fase meio que quero dividir umas coisas e é isso. inclusive, a news se chamava “perdi o bonde e a esperança”. que bom que tu curte, raici! amo a tua escrita também! <3
📧 o carlos eduardo, diretor de programação do clube de cinema de porto alegre, pergunta: quando vai voltar para o nosso clubinho querido? pois então, eu tô querendo voltar, mas chega sábado de manhã eu só quero dormir, dormir, dormir. mas vou voltar. me aguarde!
📧 e, por fim, meu amigo giliard pergunta uma coisa quase impossível de ser respondida: o que é essencial ao poema? depois de pensar sobre, acho que a melhor resposta é: que tenha poesia. e com isso já indico a leitura de o arco e a lira, de octavio paz. nesse livro, ele explora o que torna um poema um poema e o que é e onde está a poesia.
via de regra eu sempre ouço a playlist on repeat, que é basicamente as músicas que mais ouço durante a semana e como só ouço essa playlist, logo… enfim.
mas a indicação de hoje é o novo single dos meus queridinhos tempesst, sad eyes. não fiquei aaaaaaaaaa que música incrível maravilhosa, mas curti a pegada e estou com expectativas boas em relação ao novo álbum.
por hoje é só.
um bêjo,
sue ⚡
bach, adorei
próximo domingo de badvibes vou ter que alugar um carro na localiza pra infernizar algum vizinho.................pensando bem, acho que um alto falante no corredor resolve.
medo de multa e de apanhar> bad vibes de domingo
Em Anatomia de uma Queda não tinha nenhum vizinho por perto para gritar "BAIXA ESSA MERDA, CORNO”.