na posição de uma especialista na arte de esquecer, às vezes todas preciso lembrar de que isso daqui (essa news) é um escrito não apenas procês aí numa boa no sofazinho rindo da minha desgraça. isso aqui é pra que eu lembre meu mundo e o que vivi. um mundo largamente compartilhado com pessoas, mas que preciso ancorar nas palavras, sob o risco de escapar demais e eu esquecer que sou gente.
o dia hoje foi um horror. peguei o ônibus sabendo que ia chegar 5 minutos atrasada, e taquei o foda-se, pois não vou arriscar a minha vida saindo antes das 7 da manhã de casa. pisei em sala de aula e cinco minutos depois contava até 10 pra não virar as costas e pedir demissão (dessa escola, a outra eu amo). era aluno querendo ir no banheiro o tempo todo, encher a garrafinha d’água (pelo amor de deus é preciso MESMO tomar isso tudo de água de manhã????) e dei uma surtadinha, falei umas coisas que talvez tenham desapontado paulo freire. “que agressividade, sora”, disse meu aluno mais encapetado.
mas continuei.
tenho me sentido descolada da realidade, BÃT. já tenho o diagnóstico pra isso: burrice. não, eu não tô brincando dessa vez. foi dito por uma profissional, minha terapeuta: suellen, tu vai estar meio burra pelos próximos dias, talvez próximas semanas. não tem muito o que fazer. a gente fica por aqui hoje, te vejo em 15 dias.
abandonada assim e burra. era o que me faltava.
quando isso acontece (burrice, coisas), nem me abalo: sei que em algum momento esse treco vai passar e voltarei a ser como antes, vou assistir 15 filmes, 2 séries, ler 5 livros in a row bem saudável né o que será que isso esconde.
tentei assistir um filme novo que estreou na max chamado am I ok? pelo que entendi do filme, a dakota johnson tá com problemas de se entender como lésbica e sua melhor amiga, antes de ir pra londres, precisa ajudá-la nessa empreitada e tals.
isso me lembrou de uma ocasião em que eu estava com dois super amigos, felipe e wagner, num lugar aqui de aPOAcalipse city que vamos bastante. a gente tava tomando um negocinho e tals e, num dado momento, meio que pesei o clima dizendo algo mais ou menos assim: eu amo vocês, amo estar com vocês, mas sei que algum dia a gente não vai ser mais tão próximo assim.
minha explicação foi bem simples: as dinâmicas da vida adulta mudam, eu tenho amigas muito próximas que eu jamais pensei ficar longe e hoje a gente se fala esporadicamente por mensagem. a distância é uma certeza, um destino.
felipe disse algo do tipo: “eu não vou me mudar de porto alegre, tu não pode te mudar”, o wagner nem lembro a reação, mas provavelmente ele entendeu o que eu tava querendo dizer. era época em que ele tava fazendo mestrado em SP e havia mei’que uma impressão de que daqui a pouco o wagner apenas ia dar tchau (isso não aconteceu, fortunately).
nada mudou tanto assim em 2 anos, seguimos morando nos lugares de sempre e indo nos lugares de sempre e rindo até doer a barriga como sempre.
não sei exatamente o que pretendia com esse escrito.
registro: sim, incentivar quem interessar possa a abraçar sua burrice? talvez.
inéditos
pra incentivar o apoio de quem assina a newsletter na modalidade grátis, aqui vão três poemas inéditos de minha pessoa. já tenho quatro - QUATRO! -leitores que pagam 10 pilinha por mês pra me apoiar nas burrice doidera da vida. OBRIGADA, GENTE <3
esses poemas foram escritos há um bom tempo, talvez tenham sido bem próximos da seleção de ruído branco, mas que achei que já estavam em outra vibe.
se ruído branco é sobre nuvens e sons e deformidades, essa nova leva de poemas é sobre vapor e magma, sobre contornos inventados, sobre a invenção de um outro para a possibilidade da poesia acontecer.
A um braço de distância
um rosto invisível
me faz ir embora.
pra variar, meus poemas não têm título
não te amo
não amo a ti
não amo a mim
o amor é impossível
do alto desse edifício
a boca ofegante na janela
o coração galopante de uma viga
inclinada
o amor impossível nas rachaduras
do concreto
o sol abate o suspiro da espera
esperar
esperar
esperar
com a paciência de quem não
levantou essas paredes
mas imaginou que levantava paredes
esperar
enquanto o tempo te redobra
agora um pequenino e ordinário:
é sempre o meio da cena
até o nascimento não é começo
é meio ou fim de alguém
enquanto redigia essa carta descobri que meu queridinho de estreia, ruído branco, está ESGOTADO.
sério, eu não tenho palavras pra agradecer todo mundo que apoiou esse acontecimento! a pré-venda (fev/2023) foi super incrível, lancei em porto alegre, lancei em rio grande (onde reencontrei amigos de longa data e ex-alunos que hoje em dia estão 20x maiores do que eu) e só tenho a agradecer pela confiança do gênio nascimento e a competência da minha amiga, poeta e editora de zine marítimas, juliana blasina. sem vocês isso não teria acontecido!
hoje vou mimir feliz
fim da newsletter!
um bêjo,
sue ⚡