tãn rãn rãn tãn tãn. essas são as notas que cravam voices in my head por baixo da pele de quem está apta a recebê-la (pode dar play na música pra confirmar que começa com tãn rãn rãn tãn tãn) .
a voz aveludada do toma banjanin canta:
and what if I'm all wrong? I never heard the serpent song
a música, regida pelas notas descritas acima, discorre sobre alguém cindido, que duvida se está ouvindo a serpente ou apenas as vozes da própria cabeça. drama antiguinho esse, tão antigo que nem me atrevo a voltar no tempo, mas o fato de que temos “dois” dentro da gente já assombrou muitos filósofos, cientistas e twitteiros.
antes de aprofundar os conflitos de voices in my head, vou contar como tudo começou, como tempesst entrou na minha vida.
só sei que foi assim: um dia, o aleatório do spotify tocou must be a dream (a música) e meu mundo explodiu. era toma (ele podia se chamar thomas ou tomas, né) com sua voz, ainda aveludada, mas levemente mais aguda em relação à faixa 1, better than the devil.
I watched your hips in sacred amber lamplight you were dancing wearing nothing but my cowboy hat
meu deus, que música incrível, sexy, bem feita!!!!!!!!!! (muitas exclamações) nessa canção o personagem que atravessa o álbum discorre sobre sua devoção a essa pessoa de feições magníficas e que só pode ser um sonho. é tipo uma ode a essa criatura que faz esse cara, por vezes inflexível, ficar na palma de sua mão, ou, se preferir, na volta de seu dedo “you can wrap me ‘round your finger, though I’m not that flexible”.
must be a dream (o disco), então, pode ser interpretado como a jornada em que um homem cis hétero branco provavelmente gostoso experiencia (experimenta) e reflete sobre várias situações: entender-se com os próprios demônios na faixa que abre o disco, better than the devil, passando por high on my own, uma música animadinha que começa assim:
if I knew who I was I'd wake each morning at the crack of dawn and pray to a God (God, God) and meditate on the lawn
ouceje: ele não sabe quem é e vai ficar chapado por conta própria, até não aguentar mais (super simplificando tudo).
preciso parar um pouco em mushroom cloud, uma música daquelas. começa assim:
I'm haunted by my telephone you left me standing on the corner like a harlot waiting for your call out of spite though the price is rarely right
o drama é quem tá na dieta do pombo, aceitando migalhas. o cara não quer mais aceitar, ele diz isso claramente (um tantinho dramático, though):
I'm your atom bomb don't call my bluff if you keep me waiting for a crumb off your table I might self destruct and I'll become a ray of light through the mushroom cloud.
música vai, música vem e é hora de confrontar-se com a passagem do tempo em is this all that there is?
the questions of what age youth defines oh what a bore to be obsessed with dying like I'm the only one to put up a fight your salty hair and your salty lips the salty stare of that jealous bitch when I was asking "Is this all that there is?"
após essa canção, o disco encerra com voices in my head, que já está há uns 8 meses no topo da playlist on repeat. tem dias que eu não escuto por medo de enjoar. quero manter a possibilidade de catarse que ela me traz.
quando chega no refrãozinho quase quase sempre né cai uma lágrima:
I hear your singing it lures me holds me close feeling my pain is it heaven's call or a voice inside my head?
isso aqui é absolute melody. pra começar eu amo o verbo LURE (= atrair, seduzir) e, em segundo lugar, a vibe do canto com seus poderes encantatórios, super odisseia feelings, a canção que atrai e aprisiona, a voz que sente a dor, mas fica o questionamento: é uma serpente ou as vozes da minha cabeça? é um chamado dos céus?
E DIGO MAIS: importa tanto se é a serpente ou as vozes da cabeça? você consegue distinguir entre a serpente e as vozes da sua cabeça?
o personagem se debate com dilemas de como viver a própria vida, há espontaneidade ou tudo já está pré-determinado? isso vem somado ao binarismo já mencionado, a influência é externa (serpente) ou é produção de ruminações internas (voices in my head)?
o verso final quebra muito:
my forever brought to court or voices in my head? (meu pra sempre levado a julgamento ou vozes na minha cabeça?)
isso me remete ao juizo final nem tanto no sentido cristão da coisa (tá, meio dã da minha parte), mas no sentido de que, moralmente, nos julgamos o tempo inteiro e em várias fases da vida, não apenas no derradeiro minuto do sopro final.
enfim.
depois de tanto pensar e falar sobre essa música, sobre os efeitos que me causa, parece que não resta muito o que fazer. revisar e enviar. revisar e pensar se não ficou tudo uma grande besteira. revisar e pensar que isso foi o que deu pra fazer.
há algumas semanas peguei uma folha de ofício e dividi em quadradinhos e rabisquei um monte de assuntos que gostaria de abordar e essa música foi um deles.
desculpa colquér coisa!
bye,
sue ⚡
adorei o texto! pitchfork tá contratando?!!
às vezes, me parece que as vozes da nossa cabeça são a própria serpente. aí lascou!