opa, tudo?
estou aqui na tentativa de quebrar duas semanas sem envios. escrevo por gosto, por querer comunicar algo. estranhamento, curiosidade, uma imagem engraçada, eu gosto. quando não tenho nada pra dizer, fico quieta. mas não foi o caso das últimas duas semanas. quis falar muitas coisas, anotei umas ideias e esperei o momento oportuno para brincar com elas. não deu lá muito certo. duas semanas depois, aquela pessoa que ia escrever a carta já está interessada em outras coisas, outras ideias. essa carta vai ser um resumo daquilo que tenho assistido/lido/ouvido, pois quando a gente se ausenta de um lado é sinal de que colocamos muita presença em outros.
tudo começou com um episódio sobre vida extraterrestre
quantas vezes durante o dia você pensa que a vida é um deslumbre? sério, não é um troço FASCINANTE e MALUCO as fuck estar vivo? que dentro do corpo exista um incontável número de células trabalhando pra que você esteja simplesmente respirando, vivendo? tem dias que me pego pensando nisso.
um dos episódios recentes do podcast rádio escafandro (finalmente os ETs) explora o assunto da vida extraterrestre. não é um papo de malucos criando teorias tiradas da unicu. é um episódio sobre a grandeza do mundo e sobre como até o próprio conceito de vida varia de acordo com o contexto. toda definição exclui uma porção de outras coisas. dizer o que um objeto é também é dizer que ele não é (que papo doido).
estudar sobre as hipóteses de como o planeta terra tomou essa forma e gerou esses seres sempre me atrai e me deixa com uma sensação que não sei exatamente colocar em palavras. é tudo tão fruto do acaso bem marcado em cartas de tarô, tantas coisas aconteceram ao longo de bilhões de anos para que pudéssemos estar aqui agora tendo crises de ansiedade, trabalhando 40 horas por semana, tendo depressão aos domingos, querendo se relacionar com a mesma facilidade com que escolhemos um produto que chega em 24 horas. tão grandiosos na explicação das coisas por meio de linguagem, tão feitos de átomos como qualquer pedra, qualquer copo d’água.
dito isso,
esse episódio é uma aula sobre evolução, vida, a imensidão do mistério que nos rodeia. espero ter contribuído com mais uma coisa que você vai salvar na galeria ou abrir uma tab do chrome e esquecer.
fantaspoa 2024
no dia 10 de abril teve início um dos eventos mais legais do universo sim o universo inteirinho, o festival internacional de cinema fantástico de porto alegre (fantaspoa) que já está na sua vigésima edição. o evento ocorre em quatro locais: cinemateca paulo amorim, que fica na casa de cultura mário quintana, instituto ling, cinemateca capitólio e cine victoria.
o que mais gosto nesse evento, além de movimentar mais a cidade, é que sempre se descobre um monte de filme bom pra caramba que você dificilmente vai encontrar em streamings ou dificilmente assistiria assim do nada, just because.
um que me pegou bastante foi o sul-coreano the tenants (inquilinos, em português), dirigido por yoon eun-kyoung. é um rolê doido pra caramba, porém nada distante da realidade: o protagonista vive uma rotina similar a de bilhões de pessoas no mundo, do trabalho pra casa e da casa pro trabalho, e recebe um aviso de que precisa deixar o apartamento onde mora. porém, ele não tem nem pra onde ir nem pra onde se mudar. um amigo sugere, então, que ele alugue um dos cômodos da casa pra alguém. um casal super creepy acaba sendo roomate dele. não é um filme de terror, está muito mais para um sci-fi/distopia.
outro que amei foi rio, dirigido pelo simpático junta yamaguchi. eu já havia assistido o primeiro filme dele, dois minutos além do infinito (milagrosamente disponível no max) quando o fantaspoa teve que ocorrer na modalidade exclusivamente online por conta da pandemia. em rio, yamaguchi também aborda a questão temporal, mas de outro jeito. enquanto em dois minutos além… explora um olhar pro futuro, rio coloca as personagens presas sempre nos mesmos dois minutos. é um filme dinâmico, divertido, a repetição das cenas jamais deixa a história entediante.
para mais dicas e reviews nem sempre tão detalhadas, siga-me no letterboxd.
última dica:
pra quem está em poa ou estará pelos próximos dias, o festival ocorre até 28 de abril. e pra quem está em qualquer parte do brasil, 91 curtas que integram a programação do fantaspoa estão disponíveis de grátis no darkflix até o dia 30 de abril.
embora eu sempre acabe falando sobre livros na newsletter, fazia um tempo que não organizava a minha mesinha de cabeceira por aqui. falei bastante dos livros do juan pablo villalobos, do quanto patti smith segue me reencantando com seus livros, de como virginia woolf é maravilhosa (falei, não falei?) em to the lighthouse eticétera e eticétera e tals.
recentemente, recentementíssimo mesmo, li a cabeça do santo, da socorro acioli. o livro é de 2014, mas lembro que teve um hype há poucos anos e não fui na onda. minhas redes sociais mostravam que ele estava dentre as leituras mais legais de booktubers, bookstagrams e amigos reais mesmo, mas eu nunca dava bola. mããããnnnss, resolvi me mimar e comprei essa edição maravilhosa e adorei adorei adorei (sim, adorei três vezes fazendo uma invocação aqui). sobre o que é o livro? é sobre luto, promessas, amor, histórias. a vida não acaba sendo só sobre isso, no fim das contas?
transcrevo aqui o primeiro parágrafo do livro, primeira parte, capítulo caminho (curiosamente todos os capítulos começam com a letra “cê”):
ele não tinha mais sapatos e seus pés, àquela altura, já eram outra coisa: um par de bichos disformes. dois animais dentados e imundos. duas bestas, presas aos tornozelos, incansáveis, avante, um depois do outro, avante, conduzindo samuel por dezesseis longos e dolorosos dias sob o sol.
a cabeça do santo, socorro acioli, companhia das letras, 2014, p. 11
também estou lendo fantasma sai de cena, do philip roth que comprei num sebo acho que ano passado. daqueles livros que tu garimpa e paga 25 reais quando ele tá tipo 70 pila em qualquer canto. nada especial me levou até ele, apenas a vontade de ler alguma coisa.
o enredo é maisomeno isso: escritor recluso, septuagenário, algumas doenças e as perguntas que a vida impõe nessa altura do caminho. ele vai a nova york fazer um procedimento cirúrgico e o que era pra ser uma viagem rápida se transforma na vontade de fazer algo diferente de retornar a sua casa isolada de tudo e todos. até o momento, posso afirmar que a história tem a pegada do “escritor em fim de carreira, que já passou por câncer, pela solidão”, mas também possui a camada “ o medo que paira nos estados unidos após o 11 de setembro e o ódio aos judeus”, uma vez que o personagem principal, nathan zuckerman, se isola justamente por receber ameaças por ser judeu.
senti um impulso avassalador de abandonar aquela fantasia superficial e tola de regeneração, pegar meu carro na garagem da esquina e voltar correndo para casa, onde eu poderia rapidamente recolocar meus pensamentos nos devidos lugares, sob as exigências transformadoras da ficção, que não permitem sonhos dourados. se você não tem uma coisa, o jeito é viver sem ela —você está com setenta e um anos, e é assim mesmo. os dias de arrogância e auto-afirmação ficaram para trás. é ridículo pensar o contrário.
fantasma sai de cena, philip roth traduzido por paulo henriques britto, companhia das letras, 2008, p. 46
fim da mesinha
merchan ruído branco
sabia que além de escrever sobre filmes e leituras esta pessoa aqui também escreve poemas? pois isso é a mais pura verdade. clicando neste link você pode adquirir seu exemplar de ruído branco.
por hoje é só, galerinha
see you
sue ⚡
Ainda absorvendo a frase "Quando a gente se ausenta de um lado é porque colocamos presença em outro(s)", e já dando Google em algumas dicas. Lembrei que uma vez li sobre o livro da Socorro e achei bem interessante, agora achei ainda mais ;)))
Pois continue escrevendo. Mesmo que não seja sempre, continue. 🐟