recuperei um pouco da minha vibe podcaster nesse áudio que gravei a partir de umas coisas que me ocuparam a mente durante a caminhadinha da manhã. REFLITÃO.
podcasts
a curadoria dessa news está impecável, modéstia à parte. e o melhor: apenas episódios em português (finally).
ainda não assisti ao aclamado barbie, mas estou bastante curiosa e otimista em relação ao blockbuster. no entanto, os pontos abordados nesse episódio de bom dia, obvious são exatamente as coisas que espero de um filme estadunidense.
o convidado do bom dia, obvious indicado acima, andré alves, também tem um podcast, o vibes em análise. o episódio que escolhi para começar o programa tem a ver com um assunto que me intriga bastante: memes. no caso do podcast, os memes são abordados a partir de um viés da psicanálise. não lembro quem diz no episódio, mas é uma frase que marcou muito: “memes são um convite a dançar com a linguagem”. concordo.
mais um episódio impecável rádio novelo apresenta. pelos seus olhos retrata duas histórias bem diferentes, mas tão parecidas, sobre o quanto a gente vive o mundo de maneiras diversas e a importância de compreender esse gap que pode existir — visual ou linguisticamente.
4 3 2 1, de paul auster (traduzido por rubens figueiredo)
continuo achando o livro o “menos” auster de tudo o que já li. mesmo assim, vez por outra surge alguma frase, uma palavra, certas ideias que remetem ao coração criativo do escritor. como falei, é um livro enorme e, para meu azar, emendei outro livro enorme e não sei quando vou chegar ao final das quatro vidas de archie. o importante é não ter pressa.
o trecho destacado de hoje diz respeito a um evento em uma das vidas de ferguson em que ele resolve escrever um jornalzinho e lá tá ele, sofrendo:
Além do mais, agora, estavam na temporada do beisebol e ele andava ocupado, jogando no time West Orange Chamber of Commerce Pirates, e quando não estava jogando beisebol, estava ocupado lendo O Conde de Monte Cristo, o livro enorme que tia Mildred tinha mandado para ele no mês anterior, no dia de seu décimo primeiro aniversário, e que ele tinha finalmente começado a ler, depois da publicação do segundo número de O cruzado, e agora que tinha pegado embalo na leitura do livro, estava embalado demais, pois era, sem dúvida nenhuma, o romance mais absorvente que já havia caído em suas mãos […] em vez de contar as palavras em suas matérias a fim de encaixar os textos nas três colunas estreitas de sua folha única, tanto trabalho, tantas noites até tarde com o olho ardendo embaixo do abajur de uma lâmpada só, quebrando a cabeça na quase escuridão, enquanto os pais achavam que ele estava dormindo, tantos começos frustrados e tantas correções, tanta gratidão muda ao homem que tinha inventado a borracha, ciente agora de que o trabalho de escrever era tanto de retirar palavras quanto o de acrescentá-las, e depois o trabalho maçante de recobrir com tinta todas as letras desenhadas a lápis, para garantir que as palavras ficassem escuras o suficiente para serem legíveis nos fac-símiles…
4 3 2 1, Paul Auster, Companhia das Letras, 2018, s/p
east of eden, de john steinbeck
em 2015 virei uma obcecada por steinbeck. depois de of mice and men (de ratos e homens), passei a ler qualquer coisa deste homem que estivesse a meu alcance. na época, comprei of mice and men pela capa e lembro de ter chegado em casa e lido, sei lá, em menos de duas horas. eu morava em lisboa (saudades) e passava um tempão em livrarias só avaliando capas, cheirando livros e lendo trechos. tinha tempo.
depois de comprar uns livros do faulkner com traduções em português de portugal (o que acarretava em lidar com palavras como rapariga ou mais pequeno) decidi que era incoerente ter livros traduzidos nesse tipo de português, daí decidi comprar só livros em inglês, visto que era bem mais fácil de achar as edições lindas da penguin em qualquer esquina.
nesse lote, veio east of eden, um pocket gorduchinho de letra miúda e 714 páginas (eu menciono as páginas só pra dividir o desespero de me meter nessas ciladas, mas já aceitei que 2023 é o ano dos tijolos). comecei a ler por conta dessa curiosidade que steinbeck me inspira ao (geralmente) começar seus romances pela descrição do espaço geográfico.
assim como no livro de auster, east of eden começa com a fundação, com a imigração de um irlandês para território estadunidense, o avô de quem conta a história.
[tenho recuperado muitos livros e filmes sobre estados unidos por conta de um projeto com a turma do ensino médio que resolveu estudar mais o país, então estamos metendo o pau nos estados unidos explorando isso através do cinema e, claro, não perco a oportunidade de meter um livro no meio]
em algum ponto do primeiro capítulo, lê-se:
It was not a fine river at all, but it was the only one we had and so we boasted about it — how dangerous it was in a wet winter and how dry it was in a dry summer. You can boast about anything if it’s all you have. Maybe the less you have, the more you are required to boast.
East of Eden, Steibeck, Penguin Edition, 2014, p. 8
o narrador de east of eden trabalha o bem e o mal de um jeito bem metódico. é como se cada personagem concentrasse em si apenas uma dessas essências. até a forma de apresentar as personagens ocorre de forma separada. primeiro, os hamilton, depois, os trask, em seguida, a história de cathy ames (curiosamente — ou não — apresentada como uma pessoa monstruosa). não sei quem mais está por vir, mas até o momento temos esses núcleos (que se cruzam).
pode parecer que essa espécie de livro tenta dar uma visão irreal (romântica, talvez?) das coisas, afinal, ninguém é apenas bom ou apenas mau, porém acho que justamente na tentativa de mostrar tudo dividido somos levados à compreensão de que não existe nada como ser apenas uma coisa. e não apenas em termos de aspectos tão abstratos e variáveis quanto bondade e maldade. portanto, esse tipo de narrativa que se apresenta em dualidades me dá uma sensação boa, pois indica que o autor trouxe para a narrativa alguém que tenta separar, mas, na verdade, não consegue, a complexidade da existência. são muitas nuances.
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