inaugurei semana passada a série objetivas, uma tentativa ridícula de escrever sobre as coisas que leio/assisto/escuto como se eu fosse uma parede sem reboco, ouceje, um objeto apenas, por isso que objetiva. a real é que um texto objetivo, além de inexistente, é pouco atrativo. “ah mas as pessoas não querem saber o que tu tá fazendo” — MUUUITO PELO CONTRÁRIO!
as pessoas querem saber o que tu tá fazendo e elas também estão fazendo coisas que tu quer saber que elas estão fazendo. uma espécie de inception de ações do cotidiano.
há magia na porosidade da vida de quem escreve na internet, pois, ao mesmo tempo em que nada vale a pena ser compartilhado, tudo pode ser valioso quando compartilhado. ok, existem limites, contextos. eu sou só uma fudida com senso de humor apurado (minha bio do substack, considerando colocar isso de bio nos apps de relacionamento).
falhei miseravelmente nas poucas metas finais de 2023, metas estabelecidas às bordas do fim de dezembro: me alimentar direito, beber água (eu não bebo água), caminhar mais de 6km sempre, encerrar uma situationship. ficou tudo atravessado, me alimentei da pior forma possível, não consegui combater as longas distâncias por causa do calor ou da chuva, bebi um tiquinho a mais de água, nunca o suficiente, e a tentativa de terminar a situationship deu errado.
o ano começou desestruturado e me desestruturando. talvez por isso eu não esteja engajada ainda em grandes projetos pessoais ou leituras. tem umas coisas aqui dentro de mim, uns sentimentos, uns caroços psíquicos, que precisam ser acomodados antes de pensar em resoluções.
há o plano b, isto é, simplesmente não traçar planos e apagar os incêndios enquanto eles surgem.
mesmo assim, tenho comentários.
premiações do cinema e da tevê
tenho me dedicado a assistir todas as cerimônias de premiações para filmes e séries, o que reavivou a minha vontade de reassistir succession e the bear. eu sei, a vida é muito curta e tem tanta coisa nova pra ser descoberta. o problema é que eu vejo muita vantagem e valor nas coisas que revisitamos, nunca é a mesma experiência. portanto, indico essas duas séries maravilhosas que estão almoçando e jantando todas as estatuetas.
um livro
the silence, de don delillo, é um romance (ou uma novela?) que lembra bastante o filme o mundo depois de nós (mas o livro que deu origem ao filme é outro, leave the world behind).
cinco personagens (dois casais e um excêntrico professor) se reúnem para assistir o super bowl de 2022 (o livro foi finalizado às vésperas do surto de covid-19 em 2020). jim kripps e tessa berens estão num voo retornando a newark, diane lucas, seu marido, max stenner, e martin dekker, ex-aluno de diane e professor de física, estão em casa, aguardando jim e tessa, para assistir o evento e tals, quando o mundo entra em colapso — sem internet, sem transmissão, zero telas.
para além do que “realmente está acontecendo”, a narrativa de delillo está bem centrada naquilo que as personagens expressam diante de tal acontecimento. não é um livro ótimo, mas não é um livro ruim, inclusive eu talvez tenha perdido muitas nuances da história por estar relacionando demais ao filme, que eu não achei muito legal apesar de um elenco incrível. outro fator também é ler tudo num jato só, sinto que perdi algo.
seemingly all screens have emptied out, everywhere. what remains for us to see, hear, feel?
ao que tudo indica todas as telas esvaziaram, em todo lugar, o que resta para vermos, ouvirmos, sentirmos? (tradução livre)
OUCH. falar de tecnologias de internet, celulares, e outros gadgets às vezes cansa a nossa beleza, mas é um problema real oficial. é difícil analisar o problema quando estamos implicados dentro dele, mas sem o exercício da reflexão do para onde o uso dessas tecnologias nos levam, especialmente se pensarmos em quem domina e direciona o nosso comportamento em torno do que fazemos na internet, a gente está fadado ao vazio existencial profundo que nem um milhão de likes será capaz de preencher. e se enganam aqueles que veem tudo como uma grande bobagem e bradam “ain eu não dou bola pra isso, que ridículo” que pensam que as big tech não estão influenciando nada na vida deles. um dos meus desejos que não vou alcançar esse ano é reduzir meu tempo de instagram, mas pelo menos eu tô pensando sobre as coisas, um dia, quem sabe, coloque em prática.
dancinha
vamos de irmãos banjanin de novo
merchan ruído branco
adquira meu livro de poemas no site da gênio editorial. apoie a causa!
semana que vem eu volto mais inspirada
⚡
A perspectiva pessoal é que é fascinante.
Além de uma voz única de escrita como a sua Suellen!
"fudida com senso de humor apurado", humor autodepreciativo é um estilo de vida que nos dá uma visão crítica sobre nós mesmos que às vezes ajuda, enquanto pratica o autobullying você tá tentando cumprir as metas, mas se não cumprir, vira texto/piada (interna) ou uma pontinha de esperança... ou não, porque sempre cabe um "ou não" 🙃