tudo pó da mesma estrela

igual mas diferente

ponto de partida

na carta passada, respondi algumas perguntas sobre a escrita dos meus textos, azideia, e elas surgem meio que assim (mas em geral é tudo umas coisa (sem plural, aham) que fica só na cabeça e só saem quando me proponho a colocar aqui mesmo)

em uma manhã qualquer, abro pomelo ao acaso e o poema é pieza silábica. lê-se:

Decidirse a no usar una sílaba
en particular el resto de la vida.

Registrar las cosas que ocurren
como resultado de esto.

Primavera 1964

em uma folha de papel, atada a outras tantas folhas de papel, leio:

reduzindo-se a massa e aumentando a velocidade, a ondulação torna-se cada vez maior e, por conseguinte, é a mais nítida no elétron, que se movimenta pelo espaço com o mínimo de massa e com maior velocidade. a figura 3 procura, embora fadada a falhar, representar a transformação do turbilhão em onda; fadada a falhar, por isso que a ondulação se dá abaixo do limite da configurabilidade, numa região em que já não há mais figurações.

em redor delas não há nem espaço nem tempo,

falar delas é embaraçoso.

poderia ter sido paul auster, mas não é.

durante séculos e mais séculos a humanidade pirou (e ainda pira) com essa ideia de que existe algo que nos unifica, nos faz uma coisa só, pra empurrar a ideia de que temos a obrigação de, mas é totalmente o contrário: somos pedras complexas e múltiplas, apenas feitas da mesma poeira astral e isso precisa parar de ser tratado como a propriedade que nos torna especiais.

chega de ser mágico, deu de ser singular. seja insignificante, medíocre. chore de vez em quando, seja desimportante.

grite na almofada, diga que não aguenta mais, diga que não conseguiu hoje e que, talvez, amanhã também não consiga. se entregue. deixe a vida passar por cima de você, assuma que você é vencível.

não veja padrões, não crie conexões. o sol brilha todos os dias e ninguém acha uma razão extraordinária para isso, é tudo aleatório e não há nada de especial no aleatório, muito menos no que se encontrou. nada significa.

não use uma determinada sílaba, nunca mais.

não use uma determinada sílaba e enfrente as consequências de eliminar essa sílaba.

entenda-se fadada a falhar, como a figura 3 que não consegue representar a transformação do turbilhão em onda.

fique sem espaço e tempo, não fale.

s. ⚡