oi!
a carta de hoje está melancólica. a carta de hoje está animadinha. a carta de hoje parece uma pessoa, repleta de complexidade. seria a carta o véu sob o qual a gente se esconde ou sob o qual se mostra? fica aí o questionamento. isso é uma adoração a paul auster e às coisas novas que o porvir, na sua sabedoria de manter o mistério, guarda para nós.
paul auster e a invenção da solidão
quem acompanha a news há mais tempo já se deparou várias vezes com esse nome.
o nome, os trechos de poemas ou poemas completos. ter lido a poesia de auster mudou minha perspectiva acerca do que é escrever poesia. do que é escrever, na verdade.
reli Todos os poemas e fiquei, de novo, absorta. grifei muitos outros versos, me emocionei exatamente em versos já grifados. muitas pontadas no coração e o quanto é esplêndido quando uma pessoa consegue, através da escrita, atingir o centro da gente. é um troço absurdo e fascinante. essa foi minha review no goodreads:
releitura em novembro de 2022: mais versos grifados, mais poemas destacados. permanece uma dúvida: por que em vários momentos a palavra "word" é traduzida como "mundo"?* fiquei pensativa aqui e se alguém souber a resposta, agradeço. no mais, eu simplesmente VENERO esse livro.
[*pelamordadeusa, se alguém já leu esse livro e tem uma resposta plausível pra isso, me escreve, me explica. a tradução é do caetano w. galindo e eu duvido que ele esteja errado sobre qualquer coisa.]
a partir daí, li Diário de inverno, que eu tinha no kindle há algum tempo. o resultado? uma autobiografia sóbria, mas ao mesmo tempo poética. é estranho dizer, mas é poética justamente na sua falta de poesia e no excesso de detalhes do mundo material.
o mundo material, muitas vezes, é áspero e pontiagudo (assim o penso, como assim penso a língua inglesa, tão adversa à poesia. isso é apenas a minha impressão, não é uma verdade absoluta).
sobre esse livro, registrei no goodreads:
começo pelo fim, começo pelo Auster invernal, o homem de 64 anos recapitulando sua vida, organizando memórias e honrando a memória de sua mãe.
"você acha que nunca vai acontecer com você, que não pode acontecer com você, que você é a única pessoa no mundo com quem nenhuma dessas coisas jamais há de acontecer, e então, uma por uma, todas elas começam a acontecer com você do mesmo modo como acontecem com todas as outras pessoas".
assim começa o diário de inverno. o resto é infância, mãe, baseball, os mais de vinte endereços, a vida amorosa, as escapadas da morte e alguma coisa e outra sobre escrita (ainda que esse seja o aspecto menos abordado, ainda que o próprio diário seja um tratado...).
pensei que Auster seria muito mais poético nessa escrita, mas a pretensa objetividade, a narração contida dos eventos rememorados, é ela toda recoberta de uma vontade meio capenga de entender a vida como algo que acontece em tempo presente (por isso o emprego do tempo verbal presente?).
falei que comecei pelo final porque agora estou lendo A invenção da solidão, no qual o jovem de vinte e poucos anos paul auster elabora o luto pela morte do pai. um pai que, segundo ele, era um homem invisível. esse livro é um jeito de preencher o pai auster com algo que até para o filho era desconhecido. a linguagem falha. a linguagem é a certeza do falível.
o livro está dividido em duas partes
Retrato de um homem invisível, na qual auster tenta preencher o homem que, a seu ver, é feito apenas de contornos e superfície;
O livro da memória, na qual auster fala de si como A., elabora muitas coisas ainda sobre o pai e sobre o filho, mas principalmente sobre a linguagem. É bonito demais e a gente consegue perceber cada linha desdobrada - ou sintetizada? - em poemas que ele escreveu depois (o belíssimo Espaços em branco, de 1979, que está na edição Todos os poemas).
é bem curioso que, embora eu geralmente tenha zero interesse na vida de artistas e tudo o que é a eles relacionado, pois o que me interessa é o produto final, a vida me empurrou para isso.
(aqui eu não tô dizendo que não me importo se a pessoa é uma filhdaputa do inferno)
quando comecei a trabalhar com a poesia autobiográfica do Drummond, por exemplo, não era a fase poética que eu mais curtia. depois de entender melhor sobre o gênero e como que esse itabirano encapetado construiu a trilogia Boitempo, aí vocês já sabem né. foi só ladeira abaixo, só amor.
tudo isso pra dizer que quando alguém escreve sobre a própria história, isso nunca é exatamente a história. tudo isso por conta daquela coisinha que eu ADORO ilustrar com um meme:
acho que por ora tá bom né?
próxima parada, um evento newsletteiro.
teve newsletter
no dia 19 de novembro ministrei uma oficina de newsletter no Sarau Cultural promovido pelo Núcleo de Gênero e Diversidade (NUGED) que ocorreu junto com a programação da XV MOCITEC no IFSUL- Charqueadas, a convite do meu amigo Giliard, mas é óbvio que ele me chamou porque eu sou muito competente (risos, embora seja verdade).
doze participantes passaram duas horas elaborando suas news, entendendo como se usa a substack e buscando inspiração e motivação para continuar escrevendo. pensa numa profe orgulhosa! ☺
a thaís escolheu criar uma newsletter sobre cultura. ela saiu da oficina com sua primeira news já publicada. é lindo demais ver isso!
the other side 16 é a newsletter da laura, essa queridona que usou sua primeira publicação para que a gente conhecesse um pouco mais sobre ela. quero muito ver os próximos textos.
todos criaram newsletters ou, pelo menos, tiveram ideias muito boas para as suas publicações. a hágatha, por exemplo, criou uma newsletter sobre esportes, para mostrar que meninas possuem propriedade para falar sobre absolutamente TU-DO. (ela ainda não compartilhou o link da news comigo, está em dívida).
pensa numa pessoa que tá absolutamente doida pra voltar para o ensino presencial. pensa. eu todinha cem por cento a hundred percent completely.
bem, como ficou muito claro as minhas leituras já foram elencadas, estou nessa fase de devorar tudo do paul auster. porém, vale ressaltar:
📚 continuo firme e forte com anna kariênina. é muito bom um rebu casamenteiro-traição depois da carga emocional que auster deixa na gente;
📚 já está na fila do tbr (to be read) mônica vai jantar, do meu querido parsa de news, o escritor davi boaventura, lá da dengoletter;
📚 tem alguma recomendação de leitura? estou aceitando indicações de livros de poesia, em especial, mas se você tá lendo algo bacaninha que seja romance ou não ficção, pó mandar aqui.
recomendas?
lembrando que, muito importante
você pode responder a esse email deixando algum comentário - sei lá, dica de livro, filme, série, dizendo oi tudo bem, dando bom dia boa tarde boa noite, ou dizendo que tá tudo muito ruim, NÃO SEI.
mas o importante é que se você clica em “responder esse email” a mensgem chega até a minha pessoa. é bem legal conversar com vocês! outra alternativa, claro, é a seção de comentários na substack. basta clicar em “comentar” (ou comment, não sei de que jeito aparece) e é só alegria.
mas tipo, também
vocês podem me encontrar no instagram nas arrobas @suue_rr e @zine.maritimas.
ainda dá tempo: avisa as amigas artistas que a chamada para o volume 7 da zine marítimas tá aberta para recebimento de trabalhos até o dia 30 de novembro. informações todas no instagram ou no nosso blog.
com as palavras dele, me despeço
Because what happens will ever happen,
and because what has happened
endlessly happens again,
Primeira estrofe do poema Narrative, Paul Auster
Porque o que acontece jamais acontecerá
e porque o que aconteceu
infinitamente acontece de novo,
tradução de caetano w. galindo para Narrativa
até semana que vem,
bêjs,
Sue ❤⚡⭐
eu recentemente estudei a prosa do Paul Auster na universidade. por conta desse texto, devo ir atrás dos poemas também. obrigada por compartilhar:) e parabéns pela oficina!!!
A tua oficina me trouxe muita inspiração. Obrigada por compartilhar conhecimentos e me animar a escrever de novo. Uma tarde de sábado, com um calor escaldante, todo mundo quase derretendo, mas mesmo assim foi muito bom. : )