existe algo mágico nessa época do ano em que os dias — I mean, o sol, a claridade — se alongam e os pássaros cantam mesmo com o barulho dos carros e das pessoas e das tampas dos contêiners de lixo batendo. o ar muda de qualidade e de cheiro, mesmo com os cheiros desagradáveis que se avolumam em certas partes da cidade. não sei explicar exatamente, mas, mesmo com a previsão de mais chuva para a semana, algo já mudou na configuração das temperaturas. esse é o intervalo que podemos curtir dias agradáveis (???) que beiram os 30 graus antes de sermos arremessados para a sensação térmica de 40 graus e uma inquietude derivada do calor que não deixa nada ser aproveitado.
mas o que eu mais gosto dessa época do ano talvez seja o prenúncio de encerramento de um ano, das férias de verão. não é que eu vou ser feliz só nas férias, tento (isso é tentar, linda??????) ser contente todos os dias, mesmo com tudo o que o universo manda de adversidade (e ele não tem economizado na desgraça). mas esse eldorado temporal mantém meu humor mais positivo, ainda que a experiência do calor aumente a angústia de um mundo cada vez mais inexplicável e imprevisível.
mas… pera.
o mundo sempre foi incoerente, inexplicável e imprevisível. assisti uma conversa entre marcelo gleiser e atila iamarino (meu crush eterno) no iutubi e eles tocam nesse ponto de que o planeta terra precisou de muitas coincidências e encontros improváveis para se tornar essa casinha rara que estamos destruindo dia após dia. sobre esse assunto (moramos no planeta no qual nos adaptamos para viver e isso é maravilhoso) recomendo o livro a conquista social da terra, do edward o. wilson, que o solo o tenha. não confundir com o personagem edgar wilson dos romances da suprema ana paula maia.
é o tempo de deixar a janela da sala escancarada o dia inteiro, pois lá fora já não está um frio de 10 graus. é tempo. os ipês florescem, a postura fica mais disposta, ao contrário das restrições do frio que fazem com que a gravidade puxe nossos ombros com força, na tentativa de se transformar em caracol proteção térmica. quase nunca dá certo.
esse é o tempo. a fina malha temporal em que tudo vai parecer normal e suportável, mais ou menos o que costumava ser um verão há 30 anos. mas esse tempo existe e ele me motiva, de alguma maneira, a gostar de viver.
é o tempo de comprar mais protetor solar (pois uso o ano inteiro) e espalhar por todo corpo antes das 9 da manhã. é o tempo de sair de casa vestindo manga curta e short sem medo de sentir frio ao longo do dia. é o tempo de que todo dia é dia de uma conversinha, o sol, mesmo sem horário de verâo, quer permanecer um pouco mais.
junto com a temperatura, essa música me dispara o modo manguinha curta e me deixa numa paz que quero dividir aqui com vocês
as coisas andaram movimentadas por aqui no quesito livros. fiquei meio pesteada de sinusite e isso possibilitou que eu ficasse mais de canto e, por isso, consegui me dedicar à leitura enquanto me recuperava do ranho que saía de mim.
finalizei sobre o cálculo do volume #1, da dinamarquesa solvej balle (mero detalhe que simplesmente esqueci de mencionar na carta anterior quando discorri parágrafos e mais parágrafos sobre a obra). gostei muito, apesar de ser uma coisa meio claustrofóbica de ficar presa apenas num dia e se resguardar no quarto de hóspedes da própria casa, solvej sustentou bem essa pira do tempo congelado para tara selter. comecei o segundo volume e é bem a sequência de onde parou o primeiro, sem grandes saltos nem nada.
a história segue na angústia de tara tentando fazer o que for possível para consertar a fratura no tempo. confesso que chegou nesse momento e eu tô apreensiva, pois, sabendo que são SETE livros, fico me questionando se a autora vai apostar nesse tipo de desenvolvimento até o final da saga. porque, se for isso, de repente fica cansativo, NUM SEI. só sei que a tara selter tá tentando de todas as formas sair do 18 de novembro maldito.
dez princípios antes do fim, de emanuel aragão, é meio que a reunião do pensamento que ele desenvolve no canal de youtube dele + vivências pessoais de luto. o livro, ainda que com essa tônica de atravessamento do luto, destrincha as sete necessidades emocionais com base na neurociência de jaak panksepp e mark solms. recomendo muito os vídeos dele no youtube — e que são sem anúncio! — se você gosta de entender o funcionamento do nosso psiquismo. como é de se esperar, não há resposta pronta, mas ter alguém com embasamento teórico para levantar questionamentos que façam sentido é um bom caminho para lutar contra adversidades contemporâneas como solidão, ansiedade, síndrome de impostora, entre outras coisitas mais.
continuo lentamente a releitura de a amiga genial. aquela coisa meio que: será que me comprometo aqui? não é mais prudente ler coisas novas? bem, sempre fui uma entusiasta da releitura, mas tem momentos que hesito.
outro livro que li em uma tarde e amei foi o algumas estórias, do valdugs. não está no goodreads (ele chama de elitista quem usa essa rede, fazer o que), mas deixo registrado aqui que fazia tempos que não me divertia tanto lendo contos.
thomas e helena são personagens no primeiro conto “com H ou sem H?” que irão aparecer no decorrer do livro e isso achei muito massa de descobrir no andar da carruagem.
sei que tem que separar narrador do autor, mas enquanto lia eu só ouvia a voz do matheus acompanhada de todo um gestual quando ele conta histórias. não adianta, o cara tem as manha.
vou deixar um trecho do segundo conto, só para dar essa tônica do valdugs contista:
o chato
todo mundo conhece um. é fato. e antes de tudo eu acho legal ressaltar aqui: ser chato não significa ser uma pessoa ruim. aposto que se você pensar um pouquinho, com certeza vai lembrar de alguém que é muito gente boa, parceira, confiável, pau-pra-toda-obra, MAS CHATA. acontece. eu sou meio chato, confesso. você que tá me lendo agora? adivinha. sim, um pouquinho também.
mas a gente não chega PERTO do Clodoaldo.
algumas estórias tem história de amor, de vingança, história de amizades de longa data, de pessoas que desistiram de existir. é um livro com muitas nuances em termos do que evoca na gente. mas tudo com esse teor de história contada no interior e isso é um mérito do matheus. nesse texto ele explica um pouco sobre as capas dos livros e coincidências (paul auster daria pulinhos de alegria).
é isso? é isso.
amanhã o temporal já vem,
bêjo,
sue ⚡
QUE BAITA TEXTO. sou mais outono mas tô total primavera!!
e OBRIGADO pela menção do algumas estórias, sue! sempre nervoso quando alguém me lê, especialmente quem lê umas parada meio cabeçuda e aí cai no universo de thomas e helena meio rural meio interiorano!! hahaha
e sim, goodreads elitista, porém estamos lá também (a mt contragosto KKKKKKK)
https://www.goodreads.com/book/show/112853213-algumas-est-rias?from_search=true&from_srp=true&qid=7dqKXwVCLE&rank=1
OBRIGADO, DE NOVO!
Bom dia Suellen
Prazer em conhece-la
Bem vinda a minha rede!
Que sejamos mudanças, perseverancas e conquistas.