I am alone in the dark, turning the world around in my head as I struggle through another bout of insomnia, another white night in the great American wilderness.
o título e subtítulo dessa carta partem das primeiras palavras do romance man in the dark, de um autor de quem falo quase nunca nessa news, o paul auster.
estava envolvida na história de seu mais novo livro, baumgartner. o começo foi uma euforia só, como ficou registrado na edição amor se faz com as mãos. porém, a partir do segundo capítulo, a coisa começou a perder a emoção (para mim). é que eu gosto muito quando o auster entra numa pira de alguém que escreve uma história e precisa descobrir como desenrolar os fios de sua própria existência.
baumgartner é um livro sobre um homem de 71 anos que, depois de queimar a mão numa panela em chamas e se estropiar escada abaixo, ao simples olhar para uma frigideira recupera o passado com sua (há 10 anos) falecida esposa. existem pontos de contato na elaboração do luto, da vida que parece seguir em frente, mas que encontra uma espécie de freio (para ficar mais alinahda à história). embora seja um caminho um tanto moroso para percorrer (o auster ama expor os personagens como se estivesse fazendo um perfil total — de onde vieram os avós, em que rua moraram as tias, qual comida favorita do cachorro e coisa assim) o último capítulo entregou muita coisa eletrizante.
começou auster, no meio ficou meio auster quando faz autobiografia e, no fim, voltou a ser auster que te deixa abandonado no meio da rua no escuro. tudo bem, eu gosto dele assim.
por coincidência ou não, fiquei catando no meu kindle outras obras de auster que ainda me faltavam ler. esbarrei com man in the dark e a primeira linha já foi suficiente. e esse, meus amigos, é auster o tempo todo. penso que esse é quase igual ao baumgartner, mas muito melhor. publicado em 2008, é narrado por august brill, também um senhor nos seus setenta anos (72 para ser mais exata) que mora com a filha e a neta. enquanto tenta dormir, august elabora histórias que conta apenas dentro de sua cabeça. assim, temos pelo menos duas histórias concomitantes: aquela que brill inventa (os estados unidos em guerra civil pela independência dos estados, um país com torres gêmeas e sem guerra no afeganistão) e as rememorações de august sobre a sua vida com a falecida esposa sonia, alternando com outras histórias de pessoas que cruzaram seu caminho e que, de alguma forma, povoam a ficção que august se conta todas as noites.
bem, por que destacar essas duas obras é tão importante, uma vez que 1) baumgartner nem foi tão emocionante assim e 2) man in the dark foi emocionante do jeito que tu sabia que seria, pois auster estava sendo auster?
porque é esse tipo de leitura que me faz sentir viva, me faz não querer dormir e saber o que vai acontecer depois. porque fazer algo sem nenhuma finalidade clara, algo sem nenhuma utilidade prática do mundo capitalista é o que tenho buscado e não tô encontrando de jeito nenhum. esses momentos são muito fugazes, duram as horas que duram as leituras e são tão minúsculas essas horas se compararmos à vastidão imprecisa da vida.
em baumgartner, no entanto, encontrei um trecho que ressoou afu em mim, pois traduz um pouco das ansiedades cotidianas do mundo em combustão. ele diz assim:
such white clouds, he says to himself. such pure white clouds pasted against all that blue, which has to be the bluest blue sky he has seen in years. remarkable, he thinks. the earth is on fire, the world is burning up, yet for the time being there are still days like this one, and he might as well enjoy it while he can. who knows if this isn’t the last good day he will ever see—or the last of any kind, for that matter?
baumgartner, paul auster
e um trecho de man in the dark para não ficar desleal:
I begin to remember the story I started last night. that’s what I do when sleep refuses to come. I lie in bed and tell myself stories. they might not add up to much, but as long as I’m inside them, they prevent me from thinking about the things I would prefer to forget.
man in the dark, paul auster
e assim saí de um limbo no qual não conseguia ler nada e terminei 2 livros em uma semana. the end. thanks, auster.
graças ao aleatório do spotify, descobri essa banda e você vai me agradecer até o fim da vida por ter compartilhado um som tão gostosinho. dá-lhe play!
merchan ruído branco
para comprar meu primeiro livro de poemas (quiçá o único, visto que a terra não para de derreter) vá no site da gênio editorial e adquira o seu.
fim do expediente, bees.
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