expectativa e realidade, coisas tão distantes. no plano imaginário essa carta já foi escrita. no entanto, confrontada com a tela, não sei como dar a partida. teria sido tão mais simples começar de qualquer e jeito e, daí, aparar as arestas. mas sempre quero mostrar o tudo que envolve o que é colocar as coisas no seu devido lugar, as palavras em sua posição correta.
essa semana acabam as férias da professorinha e ativei o modo juscelino kubitschek: vivendo 50 anos em 5, assistindo tudo quanto é filme, série, ouvindo todas as músicas, podcasts, lendo todos os livros e bulas de remédio disponíveis, parece até que é o fim do mundo. e não é?
essa carta é o resumo da experiência estética dos últimos dois meses.
vamo?
anatomia de uma queda
nada do que é dito a seguir é spoiler, pois a capa do filme é LITERALMENTE O CARA CAÍDO COM A CABEÇA SANGRANDO. calmem o coração.
o filme francês mais comentado de todos os tempos merece o hype. afinal, ele está para o cinema o que dom casmurro está para a literatura. embora pareça um filme sobre “quem cometeu o crime?”, anatomia de uma queda é muito mais sobre o ato de contar (e rememorar) histórias e os muitos ângulos pelos quais um acontecimento pode ser elaborado. assim como odeio a famigerada pergunta “traiu ou não traiu?”, não sou adepta do “matou ou não matou?” para esse caso, pois, parece-me, o filme não é tanto sobre isso (mas a gente tem tanta referência de história de crimes e julgamentos que fica buscando por uma solução). mesmo acreditando na perspectiva aberta como a única coisa certa sobre a película, preciso recomendar o texto que a minha querida amiga cinéfila kelly escreveu sobre o tema em seu blog, cinema de porão, e ela fez uma leitura bastante válida para o filme. de minha parte, ainda acredito que tudo é inconclusivo e coisa boa é ter um filme que cause tantas saídas possíveis!
a sociedade da neve
estou tristíssima com o quanto esse filme está sendo subestimado. trata-se de uma obra que contou com a colaboração e participação dos sobreviventes do voo 571 da força aérea uruguaia que caiu na cordilheira dos andes em 1972. se tem um elenco que merece(ria) um prêmio de melhor entrosamento, certamente seria esse. uma amiga me contou, inclusive, que a cena em que eles estão super descontraídos, fazendo rimas, foi de improviso.
(vocês já perceberam que meus comentários sobre filmes são completamente aleatórios né, que bom que sim)
a rainha cinemeira isabela boscov achou a duração do filme um tanto quanto… demais. também penso que, de repente, pudesse ter sido um filme mais curto, mas quem somos nós. eles passaram 72 dias de pesadelo nos andes.
fallen leaves
esse drama finlandês é coisa mais maravilhosa que você assistirá nos próximos dias (quando e se quiser). o filme ainda está em alguns cinemas e, pra quem tem MUBI, também já está disponível por lá.
ansa é uma mulher solteira que é demitida do supermercado onde trabalha por pegar comida (que teria sido jogada no lixo de qualquer forma) e holappa é um cara que trabalha com coisas de construção e, certo dia, é demitido porque sofreu um acidente de trabalho e estava bêbado.
anyway, depois de estarem à deriva do desemprego eles são unidos pelo acaso. eles saem para um cafezinho (é perigoso, meninas) e meio que se curtem. mas a coisa não vem fácil. são muitos os desencontros entre ansa e holappa até que consigam alinhar as expectativas.
é aquele tipo de filme romântico que foge completamente das fórmulas às quais nos acostumamas a assistir. é delicado e, pra completar, tem uma doguinha. como não amar um troço desses?
e mais
a pior pessoa do mundo (amazon prime). é um drama norueguês muito legal sobre relações e o quão é difícil trabalhar e construir vínculos com as pessoas. não é impossível, é apenas trabalhoso. e importante. e vital;
the holdovers (cinemas). é uma comédia/drama muito bonito e com uma filmagem nostálgica que lembra filmes dos anos 70. se passa na época de natal, uma espécie de “esqueceram de mim” mais elaborado;
ninjababy (mubi). é um drama-cômico norueguês que explora a rotina de rakel, uma mulher que adora desenhar e descobre, tardiamente, que está grávida. tópico bem sensível tratado com delicadeza e acho que de uma forma bem honesta (e doida).
para conferir a versão de PIMP que toca repetidamente em anatomia de uma queda, confira este álbum danado de bom!
merchan ruído branco
se você ainda não tem o meu livro de estreia, ruído branco, corra até o site da gênio editorial (metaforicamente, claro) e garanta já o seu!
por hoje é só
beijim,
sue
Invejei que você consegue ativar o modk JK, colocar em prática AND ainda escrever sobre (e eu aqui pixando o muro, diria Big Cry Boy)
Sinto que a pandemia, de alguma forma, sensibilizou demais as pessoas. É uma quantidade enorme de filmes e séries de alto nível!
Já assisti alguns, outros coloquei na listinha! E se puder contribuir com meus 5 centavos, deixaria aqui Pobres Criaturas - gzuz, que coisa mais loucamente maravilhosa!