fãrst ovól, quero convocar você, leitora.e.o. maravilhosa.e.o dessa news a visitar o cantinho do matheus valduga, da mostardas e the cure, pra conferir nosso primeiro texto colaborativo. essa ideia já tava batendo há tempos, mas foi preciso uma enchente e uma crise pra que isso se concretizasse. eu e o valdugs nos conhecemos no clube de cinema de porto alegre. ele chegou esse ano, todo cheio de inventices e ideias e uaaaauuu, e depois da leitura de um texto meu reclamando sobre a falta de árvores na orla a gente passou a trocar uma ideia. no período da enchente teve enxurrada (no pun intended) de desespero, meme, playlist, figurinha e sarcasmo, além da promessa de firmar essa parceria. THIS IS HAPPENING, BRAZEEEEEL. o texto está organizado em categorias top 3 inusitadas ou nem tanto.
confere a escrita do matheus que é incrível e transparece muito da personalidade sagaz deste ser humano que defende gusttavo lima como um dos grandes artistas desse país, mas não vou elaborar esse tópico que já traumatizou muita gente.
dito isso, vamos à mensagem de hoje.
antes disso, uma observação
muitos dos textos aqui do troço possuem o formato da edição passada: um trecho de livro ou música, uma fala em filme, dá origem a uma espiral de pensamentos. gosto desse modelo de pensar, pois é muito a construção de algo que continua inacabado e, de alguma forma, ajuda a completar certo espaço mental ainda indefinido. expressar-se é sempre o que está dito e algo a mais que não se sabe como foi parar ali.
dito isso,
nas próximas cartas pretendo explorar mais esse lado de buscar referências e jogá-las de modo aleatório e tentando fazer com que as peças se comuniquem. já deu certo antes, vai dar certo agora. confia.
atlas do corpo e da imaginação
já falei em vários momentos (aqui, aqui, aqui e também aqui) sobre a tese de doutorado do gonçalo m. tavares, atlas do corpo e da imaginação: teoria, fragmentos e imagens, nessa news.
é um livro grande e denso, por essa razão tenho lido bem aos poucos e com calma para tentar processar tudo o que gonçalo explora. não é fácil. são muitos filósofos encadeados e de um jeito nada convencional, assim como não é convencional a escrita e o pensar do escritor português.
estou no capítulo 3, corpo e identidade, subitem 1 corpo e identidade, e encontrei umas coisinhas que valem a pena comentar.
sobre o peso em vergílio ferreira, gonçalo m. tavares destaca:
em redor da percepção do corpo e da constatação de que o meu corpo sou eu, vergílio ferreira, na obra invocação ao meu corpo, desenvolve a questão determinante do peso: o nosso corpo não nos pesa, o nosso corpo somos nós. vergílio ferreira lembra essa experiência simples: “se tu subires uma montanha com duas maçãs no bolso […] ao fim de um certo tempo sentirás que te pesam. mas se lhes queres destruir o peso, basta comê-las… o peso delas continua a pesar, mas não te pesa. porque já estão integradas no teu corpo e o teu corpo não tem peso para ti”. essa questão do peso é determinante: o peso é uma medida de visibilidade e de espaço, mas ainda mais de existência.
gonçalo m. tavares em atlas do corpo e da imaginação, edição da dublinense, 2021, página 212)
dez páginas depois, outra ideia me atinge:
a sensação de existir é uma sensação composta de milhares de sensações simultâneas. podemos ter no nosso corpo, ao mesmo tempo, um corpo que dói, um corpo que tem prazer, um corpo que pensa, um corpo que está irritado, etc.
idem, p. 222
e duas páginas a mais:
poderemos definir assim: a amizade como a confirmação pública da propriedade de um corpo: tenho um corpo porque quem me rodeia o confirma (porque me rodeia: confirma-me). […] espelho que fala, eis o outro.
idem, p. 225
essa carta chegou a seu ponto máximo. semana que vem é recesso escolar e pretendo escrever sobre alguns filmes que assisti nas últimas semanas de intenso frio sulino, mas não prometo nada.
té mais,
sue ⚡
que interessante essa observação sobre o peso da maçã! nunca tinha parado para refletir que nosso corpo “não pesa”.
AHHHHHHHHHHH OBRIGADO PELA CITAÇÃO, SUE!
post foda, tá? mesmo nível dum show do gusttavo lima!
(ADOREI as reflexões sobre ferreira e tavares!)